MORTE DE PEIXES NA BARRAGEM DE PARELHAS PREOCUPA COMUNIDADE

Nos últimos dias, centenas de tilápias apareceram mortas nas águas e margens da barragem Boqueirão, em Parelhas, no Seridó potiguar. A mortandade de peixes chamou a atenção da população, especialmente dos moradores da Vila dos Pescadores, comunidade vizinha ao reservatório que depende da pesca como fonte de renda. Além do impacto visual, um forte mau cheiro tem se espalhado pelas redondezas, aumentando a preocupação da comunidade. O Instituto de Gestão das Águas do Estado do Rio Grande do Norte (Igarn) disse que tomou conhecimento sobre o caso nesta terça-feira (6).

De acordo com Rany Santana, professor e biólogo atuante na região, a ocorrência não é comum e a mortandade foi observada recentemente. O caso vem sendo relatado há cerca de duas semanas, mas algumas especulações já podem ser descartadas. “Poderia ter sido um problema de chuva, porque quando está chovendo muito em um lugar que é seco, a água da chuva traz agrotóxico, mas em Parelhas não está chovendo, pelo contrário, está sempre fazendo bastante calor”, considera.

Diante disso, entre os possíveis fatores que podem estar causando a morte os peixes, o professor destaca a influência das altas temperaturas registradas na região. “Aqui no Seridó, a temperatura está mais quente do que o normal”, afirma. No local, que podem ser encontradas tilápias e traíras, apenas peixes da espécie tilápia foram registradas mortas em quantidade anormal. Segundo ele, a tilápia é uma espécie pouco resistente ao calor, que tem temperatura ideal de criação em até 20ºC, o que pode reforçar a tese.

Outra hipótese considerada pelo biólogo é a poluição, que pode estar associada ao acúmulo de matéria orgânica por ação humana, condição que favorece um fenômeno conhecido como eutrofização. Esse processo gera a proliferação de algas que consomem o oxigênio da água, provocando a morte dos peixes. Contudo, o biólogo ressalta que a barragem já é enriquecida com nutrientes há muitos anos e esse fator, por si só, não explicaria um evento tão localizado e pontual.

Sobre os riscos à população humana, o professor esclarece que não há ameaça direta à saúde, pois a água da barragem passa por tratamento antes de ser distribuída. Entretanto, há impacto econômico imediato para a comunidade local. “O problema acaba sendo mais financeiro para a Vila dos Pescadores. Porque o pessoal ali, eles basicamente dependem dessa venda de peixes. Então peixe morrendo é sinal de falta de trabalho para o pessoal”, lamenta.

Depois de ter tomado ciência do caso, o Igarn afirmou que uma equipe de monitoramento qualitativo irá ao reservatório nesta quarta-feira (7). “Não temos como adiantar o que pode ter ocasionado. Após a ida dos técnicos e as análises poderemos dizer as possíveis causas”, respondeu. O Instituto também ressalta que recomendações só serão emitidas após a conclusão das análises.

Enquanto as investigações não são iniciadas oficialmente, o biólogo ressalta a importância do acompanhamento contínuo da situação. “Infelizmente, sem saber o que está acontecendo, a gente só espera. Pode ser um episódio único, pode ser que isso não persista. Então tem que ser avaliado nas próximas semanas”, reforça Rany.

O Boqueirão de Parelhas acumula 14.935.488 m³, percentualmente, 17,61% da sua capacidade, sem ter recebido boas cargas nesta quadra chuvosa. Tribuna do Norte