EMPRESÁRIO NEGA QUE GOVERNADORES DO NE TENHAM RECEBIDO PROPINA EM COMPRAS DE RESPIRADORES

Em depoimento à CPI da Covid-19 do Rio Grande do Norte, nesta quinta-feira 3, o empresário Cleber Isaac, que intermediou a negociação dos respiradores junto ao Consórcio Nordeste, quando questionado se houve pagamento de propina para os dirigentes do Consórcio, governadores e servidores dos estados nordestinos, foi enfático ao negar: “Nenhum, zero. Inclusive, como eu estava assessorando muito próximo às duas empresas, eu até recomendei à Cristiana (proprietária da Hempcare) que, quando estava com problemas nas entregas (dos respiradores), que ela reiterasse publicamente a devolução do recurso. E o próprio Paulo de Tarso (sócio da Biogeoenergy) tem uma manifestação no STJ, dizendo que devolveria os R$ 24 milhões (embolsou para aquisição de peças) ao Consórcio, eu estou falando o que é público no processo”, declarou.

Cleber Isaac esclareceu ainda que não houve doação pelo Consórcio Nordeste de respiradores ao município de Araraquara (SP), como vem sendo divulgado pelo presidente da CPI, deputado Kelps Lima (Solidariedade). “A Biogeoenergy é implantada no polo industrial em Araraquara (SP), e sei que quem fazia a relação institucional de Paulo de Tarso era o General Ridauto, ou seja, não tem qualquer relação com o prefeito que é do PT (Araraquara), não consigo enxergar uma lógica de Paulo, que é um cara ligado ao Ministério da Saúde, fazer doação para Araraquara”, enfatizou.
O empresário ainda negou que qualquer servidor público do Rio Grande do Norte tenha feito alguma interferência para a compra dos respiradores via Consórcio Nordeste. E reafirmou que os respiradores viriam da China. “Eu não vi o contrato entre o Consórcio Nordeste e a Hempcare, mas soube através de Cristiana Taddeo que os respiradores viriam da China”, declarou o empresário, argumentando, mais uma vez, que o seu papel junto à Hempcare era o assessoramento para adquirir os equipamentos, tanto no âmbito nacional quanto internacional.
Ainda durante o depoimento, Cleber negou que os governadores do Nordeste teriam agido de má-fé com o objetivo de fraudar a compra dos respiradores. “Existia um clima de guerra e de desespero e uma correria para se adquirir equipamentos médicos, mas nunca existiu conluio entre os governadores”, afirmou.
Nas mais de três horas de depoimentos, o empresário informou que a empresa Biogeoenergy teria contrato (tipo Joint Venture) firmado com a empresa Hempcare anteriormente às vendas dos respiradores aos Estados do Nordeste. O empresário declarou “que não teve contato com qualquer membro do consórcio dos governadores do Nordeste, eu nunca tive nenhum contato com qualquer servidor ou funcionário do Consórcio Nordeste. Também não tenho conhecimento com nenhum agente público aqui do Rio Grande do Norte”.
E acrescentou: “eu estava prospectando os produtos de saúde e me aproximei de clientes que poderiam ter equipamentos importados e aí, nesse caso, apareceu a Hempcare, que tinha uma associação muito forte com a Biogeoenergy. Para deixar bem claro, eles (Hempcare e Biogeoenergy) avançaram nessa prospecção para a compra de equipamentos não só para o Consórcio Nordeste, mas também para os hospitais gerais. Logo no início da pandemia, ela (proprietária da Hempcare Cristiana Taddeo) me ligou e falou que precisava de uma pessoa para intermediar a negociação com a China, pois não estava podendo sair de casa, por ser do grupo de risco. E nesse momento, falou que tinha a Biogeoenergy com o seu apoio de exportação, e eu mantive o contato com as duas empresas. Percebi que a Hempcare era uma empresa nova, mas que a mesma estava associada à Biogeoenergy. E como eu conhecia a Biogeoenergy que tem um capital financeiro superior ao da Hempcare, me deu um conforto de que as negociações iriam ocorrer sem risco”.
Como prospector de equipamentos, Cleber Isaac relatou conheceu toda a estrutura da empresa Biogeoenergy e viu que a empresa estava importando testes rápidos para a Covid-19 e máscaras. “Na ocasião, o dono da Biogeoenergy (Paulo de Tarso), pediu para que eu buscasse clientes para a sua empresa, sobretudo na área privada. Tive contatos diários por meio de e-mail e telefonemas com as duas empresas”, afirmou.
Sócio oculto
Cleber Isaac explicou que o seu primeiro contato com a empresa Hempcare foi por meio do empresário Fernando Galante, que seria uma espécie de sócio oculto da empresa. Pelo o que foi dito, Fernando Galante é empresário atuante no ramo imobiliário e operador no mercado financeiro, que possuía papel relevante nas negociações empreendidas pela empresa Hempcare, havendo recebido valores decorrentes da venda realizada pela empresa ao Consórcio.
Além do sócio oculto, Cleber Isaac revelou que, “a empresa Biogeoenergy iria produzir respiradores desenvolvidos pelo engenheiro Antônio Carlos Alvarez Fasano e Hempcare seria a responsável pela comercialização dos equipamentos, antes mesmo da compra realizada pelo consórcio. Sobre os equipamentos desenvolvidos pela empresa Biogeoenergy, cumpre ressaltar que estes seriam modelos nacionais que integrariam o projeto intitulado de ‘Respira Brasil’, desenvolvido após intermediação de assessores do ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, com o engenheiro Fasano”.
Fasano
Em depoimento à CPI da Covid, no dia 25 de novembro passado, o engenheiro Antônio Carlos Fasano revelou que ouviu, pela primeira vez, sobre respiradores em no dia 1 de fevereiro de 2020, por meio de um grupo de whatsapp da turma de 1993 do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) – onde se formou junto com o ministro da Ciência e Tecnologia Marcos Pontes-, de que só em São Paulo poderiam morrer cinco mil pessoas sem respiradores.
Fasano contou que, nesse dia, dois amigos dele e do ministro disseram que ele poderia colaborar, com a frase “Essa é a hora de fazer diferença”. Iniciados os contatos, somente depois da validação do protótipo, realizada pelo Hospital das Clinicas e pela Santa Casa, é que foi contactado pela Biogeoenergy, no início de abril de 2020. Iniciadas as negociações com a empresa, houve a transferência da tecnologia dos respiradores, a entrega de cinco protótipos e o treinamento dos montadores.
“Duas semanas após ter firmado contrato com a Biogeoenergy, é apareceu o cliente Consórcio Nordeste, quando foi convidado para levar o respirador ao vice-governador da Bahia, João Leão, ocasião onde ele e o dono da Biogeoenergy foram apresentar os modelos dos equipamentos”.
Fasano disse que, em uma reunião, o dono da Biogeo questionou se ele teria como desenvolver algo mais próximo aos respiradores comprados pelo Consórcio e a resposta foi que, “em engenharia, com dinheiro e tempo, se consegue qualquer coisa”. Em seguida, retornou para São Paulo, onde contratou dois programadores para desenvolver um equipamento próximo ao das especificações apresentadas, e o levou para validação em um laboratório relacionado ao Inmetro.
Quando perguntado se esses respiradores integrariam o projeto “Respira Brasil”, ele disse que, “antes de levar os respiradores ao laboratório relacionado ao Inmetro, ele tentou levar os respiradores a alguns conhecidos. Teria sido os colegas dele desse órgão que teriam dado o nome de “Respira Brasil” aos respiradores. Segundo Fasano, Paulo de Tarso, Cristiana Taddeo e Luiz Henrique disseram que estes seriam os ventiladores que seriam vendidos ao Consórcio Nordeste, caso aprovados pela Anvisa.
Disse que recebeu R$ 500 mil no dia da assinatura do contrato com a Biogeo e R$ 2 milhões depois da reunião com o SENAI CIMATEC para comprar peças e adaptar o modelo do respirador.